observo

o motorista que para todos que entram no ônibus diz: bom dia! boa tarde!
a primeira vez foi no horário de sete da manhã.
ele sempre cumprimenta sorrindo.
penso que isso é bom. segue-se viagem.
na hora de fazer o retorno, eis que o ônibus pára. o motorista, novato, diz que o motor já estava com problema e havia aparentemente pifado. isso significa que ele o ônibus a pista em pleno horário de maior trânsito devido às escolas e universidade na redondeza. quem haveria de fazer retorno ou serguir o caminho na via fechada pelo ônibus, tem seu destino bloqueado. as primeiras manifestações partem de dentro do ônibus. as pessoas acusam e xingam o motorista de todo jeito, que fica cada vez nervoso. eu emudeço. como as pessoas são malditas! exigem que ele abra a porta traseira e saem insultando-o. o trânsito lá fora cresce, as buzinas, e a pressão humana. aparece a polícia. é hora de eu ir. lanço um último olhar para a corja que abomino.

dias depois fiquei sabendo que o bloqueio durou por mais uma ou duas horas. de quando em quando reencontro o motorista, como hoje, e ele diz um a um que entra no ônibus: bom dia! boa tarde! e eu relembro sempre, ao corresponder o cumprimento e olhar para sua face sorridente, de que o mundo talvez não esteja tão perdido assim.

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