d e a r s p e c i a l k,
meu amor q u e r i d o


talvez possa parecer que eu não não percebo a sua dor.

talvez pareça que estou alheio ao seu sofrimento

mas esta é a minha natureza tão semelhante à tua.


eu exercito os músculos da minha face para que eles não denunciem emoção alguma.

e, como você, só me escapa o incontrolável.



mas, neste meu ofício de contar histórias, nada posso dissimular. meu trabalho é um grito, e hoje grito o que você abafa.


dessa dor ancestral, se eu pudesse, se tivesse o dom, mudaria sua história, daria graça a suas fotos, vida a esses vultos. mas minha mão só pode deformar ainda mais as coisas e meus olhos só enxergam tristeza e torno tudo medonho. essa é a minha maldição.

(..)

e nesse ultimato de fé, você ainda disse que que o juízo final deveria ocorrer de forma literal, como foi descrito na bíblia, nada de metáforas, numa apoteose celeste donde deverão surgir das nuvens os Anjos, o criador e seu filho, para julgar cada um de nós, os vivos e os mortos.

talvez possa parecer que eu não perceba a tua dor, mas saiba que desejo que o mundo acabe, porque essa é a minha estranha forma de amar. então, no dia do juízo final nos despediremos. porque, assim como espelhamos semelhanças, refletimos diferenças.

e nesse dia eu a verei subir aos céus, enquanto eu continuarei caído.




- lourenço mutarelli.
(com pequenas adaptações minhas)

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