eu sou em ti corpo sólido mas tu é em mim vida única. passar um dia sem te pensar, sem me pré-ocupar de ti é um dia inexistente, imemorável, infundável.

fala-me tu sobre o suicídio e penso que não é certo. que é uma coragem grande de deixar a vida, mas uma fraqueza de peitar a morte: por que se entregar sem lutar?

tu morre, eu morro.

kaila estava e está muito doente. exagero em parte mas a tristeza que de vez em quando vejo nos olhos dela, me assombra e sinto abater-te o frio arrepio do abandono.

o mundo também conspira-me, ao fim todos me abandonam. o que fiz eu? tudo e nada.

tudo e nada.

não tenho força nos braços ou luz nos olhos.

seco em uma magreza doentia e já não rio como antes. as amizades mudaram e seus dissabores cada vez mais amargurados.

somos todos uma grande pangéia. nos fragmentamos, nos desertamos em desertos: já não há mar circundeando, senão somente areia, cascalho e um horizonte amarelo. nosso futuro são tempestades de pó. e qual de nós durou tanto tempo como rei? qual reino não teve seus infortúnios e/ou suas ruínas? o mundo não é sacana, mas um grande bacante.

desculpe ser tão prolixa.

não.



***


texto de alguns meses atrás.
e todo o ciclo da vida que ele representa.
deus é mesmo macaco velho.

1 comment:

  1. Hoje começa um novo século
    em homenagem à vida que prossegue
    ardente de afeto e solidária palavra.
    Hoje começa um século teimoso
    separando o sonho e o drama da história.
    Daquele que se findou na última meia-noite
    como cem anos em verdade é uma fábula
    um novo século começa todo dia
    brotando sempre não importa a seara.
    Hoje começa o século dos gauleses
    em homenagem à paz que ainda vive
    na primavera e no coração do homem;
    ainda que essa paz concentre gritos
    e a primavera se dissolva em tempestades
    na dor do parto nasce o arco-íris
    da vida que se atreve a prosseguir.

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