épicos ressuscitados

prólogo

parte i

inúmeros ficaram para trás. não havia nada na língua ou nos olhos ou nos bolsos. mil anos, mil anos, lamentavam, choravam, definhavam. nós que tínhamos óbolus nos bolsos fomos embarcados para a outra margem do rio. e agora seguimos todos em filas tortuosas. não porque estejam mal organizadas mas pelo número infindável de corpos que se enfileiram ristes, tristes e eretos, cansados e esquivos, olhos bem abertos, olhos ciliosos, narizes aguçados, mortos e agitados, atentos. muitos estão de cabeça baixa, cabisbaixos, e em silêncio. talvez em vosso ímpeto, há quem procure a luz, quem procure fugir do pesar, do pesadelo: luere peccata sua. em todos há apenas a escuridão absoluta, o mundo cassus lumine. como na condição de antes feto, e depois da vida, decerto.

sem a fagulha da salvação, percebem, aqui o paraíso é o inferno.

No comments:

Post a Comment

Obrigada por comentar!