o cara do bar cobrou 100 reais de meu pai. e meu pai disse que vai pagar. eu não gostei. mas meu pai fica bêbado com uma lata de cerveja e uma pinga (se ambos não tiverem água adicionada), o que somam talvez nem cinco reais. ao fim do mês, dê-lhe 30, já que quer roubar. mas 100? meu professor chama de frescurinha essa questão de escrevermos 100 (cem) e especificar entre parênteses. na verdade, tudo pra ele é frescurinha. a lei é cheia de frescurinha. mas ele mesmo, estrangeiro, fala palavras talvez retiradas do aurélio de 1800. e eu escrevo, aqui, 100 para enfatizar. lembro que argumentei que é fazíamos isso para não haver erro, fraude. ele disse que não, nada disso, e não lembro mais o quê. o nosso problema, disse hoje a raquel, é que a gente cutuca rindo. embora no fundo estejamos cutucando mesmo. 100 reais! não me conformo. baltazar disse, você toma uma e ele anota 30, todo mundo sabe, mas meu pai, quando sóbrio, fala que ninguém entende, e disse que vai pagar. eu o olhei várias vezes com desesperança. várias vezes quantas não lhe lancei esse olhar? ele disse que a gente não entende. e você pagou pai?, perguntei olhando para o computador. não paguei, não. preciso pagar a prestação daquele lote. meu pai paga prestação de lote desde quando eu me entendi gente. na verdade, nunca queria ter entendido isso. o argumento era que esses lotes seriam para mim e meu irmão. mas eu nunca vou morar no jardim ingá, pai. ele diz que a gente não entende. e eu gosto do meu pai. amo meu pai. hoje pensei, nessa manhã fria de brasília, o lago paranoá em fumaça, acredita?, meu deus, meu pai é 30 anos mais velho que eu. eu não consigo, como chama?, consumir? não, algo assim...minha memória...conceber, isso, conceber isso. eu amo meu pai tardiamente. o aprendo muito, muito mesmo. o neguei muito nessa vida, hoje lido com ele com meus vinteeumanos. e nos separam 30 anos. você consegue perceber a diferença entre escrever e enumerar? se eu escrevo trinta, me parece que lhe parece que passará batido, concorda? acho que sim. go on and figure. e para aproveitar encaiso um diálogo de outro dia, pela tag está nesse texto mesmo: (como é tag em português? (não me subestime. não faço perguntas estúpidas.) é macro? macro, não. é marca? não? é tag mesmo.) abre a janela pra gente conversar. pode falar pai, estou ouvindo. ele estava bêbado. sentou-se no banco. mas eu não estou dentro desse computador, como vou falar com você? (em tom de choro, ou então choroso como manda o modo inglês econômico de escrever:) vocês (eu e meu irmão) nunca param pra conversar comigo (ea gora em lembrar sinto vontade de chorar) e é por isso que vou embora pro goiás. vou comprar um barraco e comprar um computador. aí poderei conversar com você. (agora sinto muita vontade de chorar). eu levantei e abri a janela. me apertou de um tanto, sabe? ele sorriu pra mim, aquele seu sorriso bêbado, demente, infantil. sabe, eu amo meu pai. descobri isso tarde. quase trinta anos depois. (veja se lhe passou batido) a gente mal sabe se abraçar. eu quero comprar saboneteira, fronhas, toalhas limpas, montar a cama pra ele. ele precisa de um lar. outro dia ele soltou que é como é porque nunca teve uma noção de casa, família, sempre foi do mundo. anita quando nasceu não tinha quase nada na casa dela. sim, tinha-se sofá, tinha-se um lugar que era a sala, uma cozinha. uma cozinha sem mesa, uma sala sem quadros da família, um sofá sem cor bonita. paola disse que anita precisava de uma noção de lar, porque assim falaram pra ela. e hoje entro na casa dela e vejo que tem uma sala, tem uma cozinha. meu pai precisa de um lar. realmente não basta levantar uma pedra e saber que jesus está lá, partir um tronco e saber que jesus está lá. talvez ele precise de um altar ornado de ouro, uma maria que chore sangue, um confessionário com padres despreocupados, um assento estofado para atrair fiéis, ou jogo de luzes para jovens, funk do senhor!, anita meu pai eu você com esse seu computador me lendo perdendo tempo pensando que louco isso que leio mas leio nem sei porquê apenas leio porque nem sei porque estou envolvido em um lar. e talvez o cara do bar também saiba disso. baltazar também. por que meu pai não?
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