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Por que as comunicações e as artes estão convergindo?

Pensar a razão para a convergência entre as artes e as comunicações implica em assumir necessariamente que essa convergência existe. Por conseguinte, faz-se necessário explorar, ou especular, a razão dessa existência. De fato, a autora apresenta ao longo de seus apontamentos de que forma as artes e as comunicações têm convergido, no entanto o porquê dessa convergência permaneceu nebuloso, ou de tal modo ínfimo que não foi possível determiná-lo.

Talvez fosse necessário, por um lado, especificar no contexto em questão qual a significação para “convergência”, cujo sentido figurado refere-se à “tendência de várias coisas para se fixarem num ponto ou se identificarem”¹ E no entanto muito provável a autora considerasse tal elucidação, como se nota, simplesmente dispensável. “Pormenores”, há de se pensar. Contudo, por menores detalhes que sejam, resultaram em uma série de exemplos unicamente sobre os pontos de encontro entre as artes e as comunicações, resvalando os pontos de fundamentação sem explicação substancial.

De todo modo, estas observações podem ser, afinal, igualmente desnecessárias. É certo que todos os exemplos apresentados evidenciaram as analogias e anacronismos das diversas formas de confluência, diríamos, entre as comunicações e as artes. E bastou por aí. Portanto, discutir a explicação para a existência da natureza de um objeto de estudo, ainda que tenha sido esta a [aparente] proposta do estudo em questão, perde não sua importância, mas predominância, caso contrário pode-se chegar no “lugar comum”, ou mesmo em lugar algum. Findando este ponto, reflete adiante sobre o que foi concretamente disposto e apreendido da leitura feita.

Primeiro, desconfio que a forma como comunicamos e a forma como produzimos é senão o resultado da fôrma pela qual saímos moldados para executar os atos de comunicação ou produção. Cada um à sua época, tem-nos modelado a pintura, a escultura, a fotografia, o experimentalismo do cinema ou da videocultura, e todo o atual imediatismo dos meios midiáticos, quer seja pela interatividade ou pela individualidade.

Em segundo, desconfio mais ainda que, por um lado, a arte tem se proposto a denunciar os [prováveis] abusos dos meios de comunicação: um sem número de exposições empenhado em indiciar o que as comunicações causaram à cultura, massificando-a massivamente, talvez por um desencargo de consciência, talvez por descarrego vingativo. Acredito tratar-se venosamente de vingança, então infligida mais ou menos cínica, com pouca ou muita dissimulação, ou simplesmente despida de qualquer disfarce, imbuída pelo puro senso de heroísmo, visando abrir os olhos de uma sociedade que já sofre de insônia. Ou insânia. Por sua vez, os meios de comunicação, coitados – por que não – acolhem a arte, esforçando-se em entendê-la, expô-la e explicá-la, ao mesmo tempo que a musefica e mumifica.
Um bom príncipe, ensinou-nos Maquiavel, deve tanto saber ser um verdadeiro amigo quanto um verdadeiro inimigo: significa ser abertamente a favor de alguém contra um terceiro². Eis em cujo ponto, sim, as artes e as comunicações agem e confluem perfeitamente: desde que não podem destruir uma a outra, mesmo porque não há razão, aliam-se as artes e as comunicações, comungando e mancomunando, contra apenas um terceiro, é óbvio, o homem social. Se por um lado, as artes não assumem totalmente as comunicações, por precedê-las, nem as comunicações adotem para igual as artes, por já tê-las ultrapassado em influência e afluência, unem-se ambas para pensar o pensador, mais uma vez, o que se fez de social do homem, para caso um dia este se proponha a derrubar as duas.

A arte é polêmica, radical. Os meios de comunicação são, em um arquear de sombrancelhas, conservadores. Temem os fins pelo que fazem ou hão de fazer, os meios. Todos os meios que se atrevem, ou entrevam, pelo mesmo radicalismo das artes são constituídos pelos ditos independentes, em outras palavras, dependentes apenas de uma minoria igualmente radical. Não possuem a consistência fundamental para sobrepujar as comunicações de massa.

Por fim, delineia-se apenas uma última consideração sobre a “cultura de massa”, não encontrada no texto sobre a convergência entre artes e comunicações. Segundo Umberto Eco (1993), “se a cultura é um fato aristocrático, ocioso cultivo, assíduo e solitário, de uma interioridade que se apura e se opõe à vulgaridade da multidão (Herácrilo: “Por que quereis levar-me a toda parte, ó iletrados? não escrevi para vós, mas para quem me pode compreender) (...), a cultura de massa é a anticultura. Mas, na vida associada, se torna o fenômeno mais evidente de um contexto histórico, a “cultura de massa” não indica uma aberração transitória e limitada: torna-se o sinal de uma queda irrecuperável, ante a qual o homem de cultura (último supérstite da pré-história, destinado a extinguir-se) pode dar apenas um testemunho extremo, em termos de Apocalipse”³. Neste último ínterim, minha consideração final é que a dada convergência entre as artes e as comunicações trata-se, na verdade, de um aliar-se para juntas chegarem não sei aonde nem sei porquê.


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Notas.
1 In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Online.
2 “... Esse partido será sempre mais útil do que o conservar-se neutro, porque se dois poderosos vizinhos teus se puserem a brigar, ou são de qualidade que, vencendo um deles tenhas que temer o vencedor, ou não. Em qualquer caso, ser-te-á sempre mais útil descobrir-te e fazer guerra de fato, porque no primeiro caso, se não te descobrires, serás sempre presa de quem vencer, com grande prazer daquele que foi vencido, e não tens razão nem coisa alguma em tua defesa, nem quem te acolha. (...) E acontecerá sempre que aquele que não é teu amigo pedir-te-á que sejas neutro e aquele que é teu amigo pedirá que tomes de armas abertamente”. In: O Príncipe, Machiavelli, pp 122-123. Tradução de Lívio Xavier.
3 In: ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. 1993, p. 8, citando QUIANGALA JOÃO, Anne Caroline Souza, em “História em Quadrinho Adulto é Obra de Arte?”, setembro, 2009.

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