Ensaio tocante com animais idosos e um ensaio sobre a velhice


Nos seres humanos, o olhar sobre a velhice, algumas vezes, infelizmente, está carregado de negativismo, revelando desamparo, desapego e, por vezes, desespero: parece lamentar, ao se recordar, a juventude que se esvaiu.

Alguns gastam sua mocidade de forma tão desenfreada que a velhice acaba lhes parecendo cara. Em uma visão romantizada deste aspecto, ouso dizer que isto é resultado de nossa relação com a juventude, cujo olhar vai de um canto a outro, insaciável e inquieto; na velhice, ele simplesmente para em algo e fica. Demoradamente. A contemplação sobrepuja o e sossego e a complacência. Será reflexo de nossa  insustentável insistência em existir?

Provável. É nesta fase que olhamos para trás e, depois de refletirmos sobre o que fizemos, olhamos para dentro de nós mesmos. Dependendo da forma como lidamos com o que vemos em nosso interior, tornamo-nos mais introspectivos e intimistas. Outros, melancólicos.

Em contrapartida, a velhice a partir do olhar do outro pode suscitar muitas interpretações, ainda não muito bem definidas. Encará-la de perto desperta medo em alguns, fragilidade em outros. A maioria, porém, prefere não verbalizar o que pensa, pois teme sofrer por antecipação.

E nos animais? Como se traduz a velhice em seu olhar? Enquanto desconhecemos outra forma de nos comunicar com eles, no auge de sua idade, que não pelo olhar, esta espécie cara em nosso planeta, arma-se de um olhar terno e profundo para expressar o que sentem no estágio final de sua vida.

É o que mostra o ensaio tocante com animais idosos registrado pela fotógrafa Isa Leshko  Leia mais sobre o projeto no final da postagem. Vale a pena.




Handsome One, 33 anos





Ovelha finlandesa, 12 anos



Galo, idade desconhecida





Pumpkin, 28 anos




Abe, 21 anos




Teresa, 13 anos




Marino, 5 anos





Kelly, 11 anos





Blue, 19 anos





Phyllis, 33 anos





Sierra, 3 anos




Red, +14 anos




Capuchinho, +30 anos




Violet, 12 anos




Ganso Embden, 28 anos




Kiri, 17 anos




Animais Idosos - O projeto

A ideia de captar a imagem de animais idosos surgiu justamente depois que Isa Leshko passou um ano ajudando sua irmã a cuidar da mãe com Alzheimer em Nova Jersey. Afetada pela profundo impacto dessa experiência, Isa decidiu confrontar sua própria mortalidade. Embora não quisesse retratar sua mãe, ela sabia que isso se refletiria de alguma forma em seu trabalho como fotógrafa.

O desespero de ser acometida pela Alzheimer faz Isa estremecer cada vez que perde as chaves ou esquece o nome de alguém. Sua avó materna tinha demência nos últimos anos de sua vida e, agora, também aflige sua mãe.

A fotógrafa começou a lidar com esse mix de medo e frustração logo após retornar de Nova Jersey, quando topou com um cavalo cego que vivia na propriedade de um parente. Hipnotizada pelo animal, Isa passou uma tarde inteira fotografando-o. Depois de analisar o filme, percebeu que havia encontrado o projeto que a ajudaria a enfrentar a doença da mãe.

Desde esse primeiro encontro, Isa percorreu várias fazendas e santuários (um lugar protegido onde os animais são mantidos para viverem de forma livre e sem servir de instrumento para os seres humanos) em busca desta mesma experiência com outros animais idosos.

Antes de serem resgatados e levados para os santuários, muitos dos animais fotografados para o projeto viviam em fábricas de exploração. Outros eram animais de estimação que receberam carinho e atenção desde sua tenra idade. Tão ambivalente quanto possa ser dada as experiências individuais que passaram, alguns desses animais parecem estar bastante frágeis, enquanto outros aparentam bem joviais apesar da idade avançada.

Animais que são vítimas de abusos constantes sofrem de envelhecimento precoce e de doenças relacionados aos abusos. Alguns, porém, são incrivelmente resistentes e parecem ter se recuperado por completo dos traumas que passaram. É o caso da porquinha chamada Teresa, de 13 anos de idade, que não obstante os horrores a que foi submetida nos primeiros anos de vida, soltava grunhidos de aparente felicidade enquanto se aquecia sob a luz do sol que invadia o celeiro durante a sessão de fotos para o projeto.

Ainda não é possível definir com precisão quando um animal pode ser considerado idoso. Animais mantidos em fábricas modernas de exploração são geneticamente modificados para amadurecerem mais rápido do que sua herança genética original permitiria. Os frangos, por exemplo, são abatidos quando completam cerca de 42 dias de idade. Portanto, frangos resgatados de uma fábrica de exploração são considerados idosos com apenas um ano de idade, mesmo que sua herança genética esteja programada para viver 8 anos.

Para alcançar esse senso de intimidade nos retratos que desejava produzir, Isa passou várias horas ao lado dos animais que fotografou, visitando-os mais de uma vez. Dependendo do animal, chegava a passar mais ou menos uma hora deitada ao seu lado, antes de tirar uma foto sequer. Com esta abordagem, Isa acredita que ajudava o animal a se acostumar com sua presença, além de lhe permitir observá-lo sem se preocupar unicamente em registrar uma imagem.

Com este projeto, Isa também anseia inspirar maior simpatia em torno dos animais, em especial os de exploração. É muito raro que estes animais possam desfrutar plenamente de sua expectativa de vida natural visto que a maioria sofre com brutalidade e morte prematura. Ao retratar a beleza e dignidade dessas criaturas em seus últimos anos de vida, Isa deseja encorajar as pessoas a questionarem e desafiarem a forma como esses animais são tratado atualmente.

A fotógrafa continua viajando por fazendas em busca de imagens para seu projeto, o qual é financiado pela venda das suas impressões. Confira também o curta-metragem (em inglês) sobre o projeto, produzido pela Walley Films e filmado em San Antonio e Kendalia, Texas, em maio de 2011 no santuário Wildlife Rescue & Rehabilitation.

Animais Idosos - o Filme

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