reproduzo o texto extraído do blog de tatiana:

(que aliás me exalta dúvidas; o texto)


Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008


"Olá, 26%"


O texto de Ferreira Fernandes no DN de hoje
é notável.

Conto, por alto, ter tido na minha vida cerca de 60 a 70 professores. Lembro-me de muitos deles pelas suas idiossincrasias, mas de muito poucos pela competência e pela qualidade das suas aulas. Acredito que o sistema de ensino no nosso país é ainda pior para os alunos do que é para os professores. E acredito que quem gosta de ensinar e sabe fazê-lo consegue cativar o mais duro dos pedregulhos para a estupidez que é o conhecimento tal como é vendido pelos sistemas de educação das sociedades modernas: como uma coisa boa em si mesma, que não é.

Entre Platão e Aristóteles, numa interpretação muito ofensiva, se calhar, acredito que o conhecimento só será bem vendido se a frase publicitária que lhe for atribuída o apresentar como um meio para atingir um fim. O conhecimento não é bom em si mesmo porque só um tolinho sem contacto com o mundo real é feliz por saber mais - e é mais feliz por saber mais quanto mais sentir que os outros, à sua volta, sabem menos que ele. O sistema de ensino em Portugal estimula a inveja pelo conhecimento; por isso, um aluno que conversa com o professor no intervalo não pode ser senão um engraxador; por isso, um aluno que levanta o braço de cada vez que o professor pergunta alguma coisa não pode ser senão um marrão vaidoso.

Pior, talvez, será a situação em que o professor tem medo de aprender com os alunos e, para não fazer má figura, não permite que os alunos participem nas aulas. No ensino universitário, então, é uma prática constante. Depois, há os génios que dão aulas na universidade e não contam com o facto de os alunos não terem a obrigação de estar familiarizados com as suas áreas de especialização. Quantos alunos universitários não terão sentido que um trabalho seu foi utilizado para enriquecer uma tese ou um artigo de um professor? Os alunos também não têm a obrigação de chegar à universidade tendo lido Barthes ou Derrida, mas, por outro lado devem ser muito bons a escrever, a argumentar, a raciocionar com as bases que, em princípio, lhes deveriam ter sido dadas nos graus de ensino anteriores.

Não é fácil ter bases quando o professor, como os alunos, só pensa na hora em que a campainha vai tocar, a do final daquele tempo e do seu tempo como professor de matemática que, se calhar, podia ter sido engenheiro e ganhar, com isso, o triplo do que ganha agora. Os alunos demitem-se porque os seus professores, em espírito, são todos reformados. A premissa maior, afinal, é a seguinte: Todos os portugueses são reformados, do trabalhador da mais privada das empresas à mais pública das repartições. Os portugueses não gostam de trabalhar porque não acreditam senão nas compensações imediatas. Esperar mesmo, só por D. Sebastião. E aquilo que, na Mensagem de Pessoa, é muitas vezes interpretado como uma esperança apoteótica não é senão uma crítica velada, como O Encoberto, àquilo que somos como gente.

Não estranho, por isso, que o nosso empreendimento mais recordado sejam os descobrimentos. Dinheiro fácil, que aquela história da conversão dos infiéis não me convence nada. Colonizemos, pois. Para o português, não há pátria nem bem comum, a menos que dê muito jeito para andar com a camisola da selecção nacional vestida. E os políticos são todos uns bandidos que ali estão, a ver se conseguem roubar o máximo, por mais curto que seja o mandato. Desejo-vos pois, meus caros, sorte para a chegada dos imigrantes, esses outros bandidos. Brasileiros, russos, ucranianos qualificados, que estão dispostos a fazer o mesmo e muito mais pelo mesmo preço. Ou por um ainda menor. Malta que, se calhar sem consciência disso, percebe o verdeiro sentido do marxismo - que, em Portugal, nem os comunistas percebem. O trabalho não são sindicatos e isso eu sei mesmo; se calhar, porque não se ensina na escola.

Dito por Filigraana


original

2 comments:

  1. Que dúvidas, posso saber? Estou disposta a resolver todas (se souber - do que duvido).

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  2. falo da autoridade do texto, das ist, quem o escreveu. você ou o outro autor.

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