Fora da Caixinha




Semestre passado tive um colega muito carismático no curso de alemão. Natural de Carpina, Pernambuco, mas criado no Mato Grosso, chegava sempre sorrindo e, durante a aula, procurava fazer comentários positivos quando o momento parecia oportuno.

Bom, um dia ele disse a outro colega de sala que este era "fora da caixinha". Eu tive vaga ideia a que ele se referia, pois em inglês existe a expressão "think outside the box", mas como parte da turma ficou um pouco com ar de incógnita, ele, sempre muito atencioso, explicou o significado da expressão em sua terra natal. Eis, mais ou menos, o que nos disse:

"Em geral, todos vivemos dentro de uma caixa, onde tendemos a pensar do mesmo jeito. No entanto, algumas pessoas se destacam porque têm ideias diferentes e além, de forma que pensam 'fora da caixinha'. Você [o colega em questão] é assim: muito inteligente, mente aberta, por isso, é 'fora da caixinha'!".

Bom, esta expressão pode ser encontrada fraseada de outras formas, mas com denotação similar. Uma amiga, por exemplo, para se referir ao mesmo tipo de pessoa elucidado por nosso colega, falava "fora do sério".

Ora, parece, então, que aqueles que fogem à seriedade das coisas, tendem a ser excepcionais em tudo que fazem. Faz sentido, porque ser "sério" pressupõe seguir uma linha de austeridade, regrada a metodismos, sisudezas. Sem sombra de dúvidas, todos esses elementos compõem o caráter do honesto, de quem se pauta pelo bom senso. E o mundo está carente de tantos!

Pessoas "fora da caixinha" ou "fora do sério", contudo, arriscam-se mais. No amor e em viagens. Deixam-se ser escolhidos por parceiros com gostos completamente opostos, com hábitos contrários aos seus próprios ou até aos seus princípios. Não demoram, portanto, a ser mais perspicazes que aqueles que procuram amar somente pessoas com afinidades para evitar o desgaste de compreender e tolerar o outro.

Escolhem destinos de viagens atípicos, marcam passagens de última hora, a mala cabe em suas costas. Por isso, frequentemente se decepcionam com decisões tomadas, em geral precipitadas, mas com o resultado, não com o arrependimento de não terem tentado. E, não obstante, passados alguns anos, são felizes pelos caminhos que tomaram, em especial os errados, porque afinal tiveram coragem, força e âmago para saírem do seu quadrado. 

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