flores, penas e flores.

da musica 'paciencia' aprendi muitas coisas. inclusive que devo viver: 'mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma; mesmo quando a vida pede um pouco mais de alma, o tempo não pára'. e este trecho me diz muita coisa. ainda mais porque no começo da musica lenine esboça um 'Mmmm, Mmmm' muito mais bonito e eu seria capaz de escutar por horas e horas. tudo isto porque eu espero do mundo e o mundo espera de mim. e a música fala que 'a vida não pára' e 'ela é tão rara', eu continuo achando que no final de tudo ela vive a se desintegrar. sim, eu finjo ter paciência. talvez por isso cheguei tão longe: longos dezoito anos. com a loucura achando que tudo isso é normal.
e fingir, sim, é degradante, é enganar a si mesmo; é acordar e ver uma realidade cinza e fria - just like santiago used to told me. mas será que é tempo que me falta para perceber? ainda que eu tenha perdido todo esse que passou? oquei, ganhar também faz parte. ao longo dessa fase obtive conhecimento, fiz amigos, acumulei lembranças, etc etc e me sinto completamente desonesta quando ainda faço questão de fazer prevalecer a tristeza e a desesperança; é como se somente isso tivesse um peso maior em tudo que vivi. assim, enquanto eu espero a cura desse mau, tento abstrair sentimentos bons do mundo, das pessoas, dos momentos em que estou sozinha também..pois não quero dar a chance para que digam que não tentei.
a dor é enorme. consumo-a viciosamente. o que não quer dizer, porém, que me rendi. 'tenho ainda coração'. não exijo que me entendem. não espero. above all, que não tentem. no entanto, que minha sandice seja perdoada. besides, que ignorem meu desafeto. porque um dia, eu sei, o tempo não pára, não pára, não..
além do mais, lá no fundo, eu também sei, muitos sentem o mesmo. apenas lidam de maneira diferente. é. e talvez estes sejam até mais fortes. todos os outros. todos os eus. afinal de contas, acredito que você se transforma em bicho indefeso e oprimido; incorpora um corpo gelado e cansado, molhado por suores frios. para isso não acontecer, eu quero rir mais do que chorar porque às vezes é preciso e, talvez, sofrer já não seja mais tão bonito assim. a melancolia anula qualquer fuga da sua jaula; ela te faz se machucar desde a lâmina até os pensamentos mais obscuros: é você cavando sem perceber um abismo para longe de tudo. quando você acordar, nunca será tarde demais mas você já não sabe no que se tornou, não distingüindo as falas, os sons, os dons, as fadas..eis que você ergueu um império de dor e resiste porque precisa desses dias para morrer, decompondo a essência do que ainda é belo.
você ainda se lembra de tudo. mesmo que esse tudo seja o que já se foi e o nada que ficou para contar depois; somente restaram lágrimas que preenchem seus olhos de forma ambigüa, porque são espinhos que descem pela face, sangrando. não importa, você precisa se machucar e sangrar para ver se ainda está vivo. porque nada mais tem cheiro, a vida é incolor, o ser é vazio e o seu é odioso. a tristeza te enjaula, sendo a dor grades que você não toca por medo, mesmo conhecendo-as tão bem. ou simplesmente o supõe. e este não é o fim. simplesmente parece infinito. não acho que a vida retroceda. ela talvez estacione. por isso,faço essa reflexão do passado e não uma meditação, como já aconselhou o poeta.


[carta escrita em 17 de dezembro de 2004]

1 comment:

  1. Sua carta espirra lágrimas, sangue e pus... E acho que minhas crianças devem, sim, lê-la com a mais profunda sintonia para sentir do que o mundo é capaz de fazer com as pessoas, ou talvez do que as pessoas são capazes de fazer com o mundo. Talvez seja isso; ponto de vista. Mas isso não anula a dor individual, reflexo da existência paralela de flores e feridas, uma do lado da outra, por onde quer que formos... Cabe a nós sentir o cheiro da que mais nos apetece em dado momento... Beijos, chocolate temporariamente amargo... ( e que eu adoro!).

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