prometeu roubou o fogo
"está satisfeito?", perguntou-me, os olhos, como sempre cansados.
"não entendi..", argumentei, meus olhos, pela primeira vez, perdidos.
"estou fracassado, como você sempre desejou", murmurou assim-assim.
encarei-o demoradamente. de fato, depois de tantos dias vendo-o sair-se glorioso em tantas situações; estava não satisfetia, mas surpresa.
"não é esse meu sentimento".
"e seu coração não gela de emoção?"
"por qual motico entorpecente?"
"vamos! me recuso a acreditar que tudo isso é bondade! não vai aproveitar para, ao menos uma vez, sentir-se em ascenção..em meu lugar?"
"não", suspirei, "achei que tu nunca sucumbiria um dia. portanto, não tenho nenhum sonho reservado para se realizar neste momento.."
ele riu, ironico, como um fraco que nunca imaginei sê-lo.
"ora, ora. você me diverte"
"antes do que o amargurasse em tédio"
"impossível", e riu mais alto.
"as plantas não vivem somente de luz"
e subitamente calou-se, diante destas últimas palavras. o caráter sério figurou-se uma vez mais no seu rosto. o seu olhar procurava ler, compreender, o que eu quis dizer. não encontrando respostas, fuzilou-me:
"não se esconda em analogias!"
"esta é a minha veneziana máscara"
"vamos!", alterou a voz em tom nervoso, "desembarace-se de seu sarcasmo"
"sarcástico eu? acho que não"
"melodromático então?", suas sombrancelhas arquearam-se e seu olhar me fitou, outra vez cheio de ironia.
meneei a cabeça negativamente, abaixando minha crista.. acho que isso o irritava: meu recolhimento, meu consentimento, minha imparcialidade.. com efeito, era para que se entendesse como se bem quisesse. talvez fosse indiferença de minha parte, mas lhe causava uma insegurança perturbadora.
"não.. é incapacidade mesmo"
"incapacidade?", indaguei-lhe, "e onde fracassei?". aqui enfatizei o fracassei, procurando deixá-lo mais coagido. se antes fugia a todo custo da opressão, agora fui obrigado a usar-me deste recurso repulsivo.
"então é isso?" você quer me reduzir?", vitimizou-se, mudando até a expressão séria para súbito desapontamento.
continuei calado. assisti seu enorme busto dobrar-se sobre a mesa. o rosto envelhecido contorceu-se prestes a chorar. afastou o prato de sop já frio e remanesceu em um sentimento profundo: era silêncio a partir de então. logo, no entanto, interrompeu-se por um lamentou levemente abafado, sufocado.
infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer porque realmente era um incapaz. deixei-o só sob as luzes acesas e ao som da televisão, porque também sabia que uma hora as lágrimas secariam. fui embora lembrando de ícaro, o personagem, caindo em queda livre logo depois que suas asas derreteram quando próximas ao sol. eu imaginava, tentava adivinhar, o que passava na sua cabeça quando quase alcançou o sol, e em seguida o que lhe ocorreu quando caía novamente para a prisão do labirinto. mas me sentia mesmo era como prometeu, acorrentado por ter roubado o fogo e então dado-o para o homem. além de eternamente condenado, teria suas entranhas devoradas todos os dias por um pássaro hostil.
"não entendi..", argumentei, meus olhos, pela primeira vez, perdidos.
"estou fracassado, como você sempre desejou", murmurou assim-assim.
encarei-o demoradamente. de fato, depois de tantos dias vendo-o sair-se glorioso em tantas situações; estava não satisfetia, mas surpresa.
"não é esse meu sentimento".
"e seu coração não gela de emoção?"
"por qual motico entorpecente?"
"vamos! me recuso a acreditar que tudo isso é bondade! não vai aproveitar para, ao menos uma vez, sentir-se em ascenção..em meu lugar?"
"não", suspirei, "achei que tu nunca sucumbiria um dia. portanto, não tenho nenhum sonho reservado para se realizar neste momento.."
ele riu, ironico, como um fraco que nunca imaginei sê-lo.
"ora, ora. você me diverte"
"antes do que o amargurasse em tédio"
"impossível", e riu mais alto.
"as plantas não vivem somente de luz"
e subitamente calou-se, diante destas últimas palavras. o caráter sério figurou-se uma vez mais no seu rosto. o seu olhar procurava ler, compreender, o que eu quis dizer. não encontrando respostas, fuzilou-me:
"não se esconda em analogias!"
"esta é a minha veneziana máscara"
"vamos!", alterou a voz em tom nervoso, "desembarace-se de seu sarcasmo"
"sarcástico eu? acho que não"
"melodromático então?", suas sombrancelhas arquearam-se e seu olhar me fitou, outra vez cheio de ironia.
meneei a cabeça negativamente, abaixando minha crista.. acho que isso o irritava: meu recolhimento, meu consentimento, minha imparcialidade.. com efeito, era para que se entendesse como se bem quisesse. talvez fosse indiferença de minha parte, mas lhe causava uma insegurança perturbadora.
"não.. é incapacidade mesmo"
"incapacidade?", indaguei-lhe, "e onde fracassei?". aqui enfatizei o fracassei, procurando deixá-lo mais coagido. se antes fugia a todo custo da opressão, agora fui obrigado a usar-me deste recurso repulsivo.
"então é isso?" você quer me reduzir?", vitimizou-se, mudando até a expressão séria para súbito desapontamento.
continuei calado. assisti seu enorme busto dobrar-se sobre a mesa. o rosto envelhecido contorceu-se prestes a chorar. afastou o prato de sop já frio e remanesceu em um sentimento profundo: era silêncio a partir de então. logo, no entanto, interrompeu-se por um lamentou levemente abafado, sufocado.
infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer porque realmente era um incapaz. deixei-o só sob as luzes acesas e ao som da televisão, porque também sabia que uma hora as lágrimas secariam. fui embora lembrando de ícaro, o personagem, caindo em queda livre logo depois que suas asas derreteram quando próximas ao sol. eu imaginava, tentava adivinhar, o que passava na sua cabeça quando quase alcançou o sol, e em seguida o que lhe ocorreu quando caía novamente para a prisão do labirinto. mas me sentia mesmo era como prometeu, acorrentado por ter roubado o fogo e então dado-o para o homem. além de eternamente condenado, teria suas entranhas devoradas todos os dias por um pássaro hostil.
há quatro anos.
Prometheus
ReplyDelete"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!
Eu honrar a ti? Por quê?
Livraste a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?
Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que forem parias,
não se renderão a ti como eu fiz."