não, este blog não está virando um reduto de comentários sobre livros os quais, coincidentemente, li recentemente. mas, não sei, tenho sentido vontade de fazê-los. após alguns anos lendo superinteressante, e há pouco menos de dois anos iniciado o curso de tradução, percebi como é complicado isso de fazer uma crítica. primeiro porque o sentido da palavra, no seu uso comum, boca-a-boca, povão, foi desvirtuado daquele de uma análise detalhada com o intuito de observar não só os prós e contras, como ocorre muito no brasil (mas também os a favores de um determinado objeto ou situação), para este de simplesmente falar mal disso ou daquilo. ''ah, fulano me criticou'', diz alguém ressentidamente. por fim que de repente me vi incomodada de ler aquela crítica de poucas linhas sobre poucos livros estrangeiros ou nacionais selecionados pela revista superinteressante: percebi que eram sem nexo, sem alma e aparentemente sem intuito, a não ser o de falar: leia / não leia.
àquela época ainda que leiga, crescia-me a sensação de que os críticos sequer liam o original, a fim de melhor embasar sua opnião ''crítica''. deduzia-se a qualidade de uma obra como boa ou ruim à partir do que liam no traduzido. agora, na posição de uma estudiosa da área, não de análise crítica, mas da tradução, percebo que um determinado texto pode sofrer algumas alterações no seu processo tradutório, tornando-o bom ou ruim ao final, como produto. isso não porque foi feita uma má tradução, fique bem claro, e quem sabe algum dia o próximo leitor leigo na área talvez um dia entenda, embora eu expecte que isso seja agora ou que não demore muito, que pelo contrário o que existe são más escolhas num processo tradutório, o que acaba refletindo em um produto menos ou mais à altura do original. outra situação pode acontecer: o original é um texto ruim, com falhas ou mesmo erros de qualquer tipo, e o tradutor-maravilha, salva o texto da derrota, o torna melhor, aceitável. ora, você nunca parou pra se perguntar por que os livros de paulo coelho são tão lidos no estrangeiro? hahaha o cara foi esperto e contratou bons tradutores. à parte disso, pode ocorrer mais uma situação, que o leitor brasileiro de uma crítica ignora mas acaba sendo afetado por ela, essa que foi oportunamente comentada por uma colega de curso em um seminário sobre um texto que ela traduziu.
na ocasião, giu comentou que ao traduzir um determinado texto, sobre um crítico (!) de música, este aparentemente cometeu o erro de citar o nome errado de uma das faixas do cd o qual ele falava. sem poder entrar em contato com esse autor, giu arriscou recorrer à estratégia de reparar esse erro, corrigindo o nome da faixa [a propósito, esse cd foi justamente o do radiohed, in rainbows, comentado aqui no blog em outro momento, e giu é a mesma garota desse mesmo post!] em sua tradução. em sua defesa por ter alterado o original [fato que muitas pessoas condenam e inclusive tradutores], ela supôs que o autor talvez tenha se embananado, pois uma vez que tem que ouvir talvez centenas de músicas todos os dias, a fim de elaborar suas críticas, não seria difícil trocar o nome de uma faixa [e mesmo elaborar uma má crítica]. julgando esse ponto muito interessante, tomei nota e agora ouso supor que o mesmo acontece com os críticos-leitores, esses que têm que ler tantos livros e então também acabam ficando desnorteados na hora de fazerem uma crítica..
essas observações são apontadas para mostrar que ninguém é perfeito, mas que, por outro lado, pelo menos poderiam procurar a perfeição. e não exagero. na impossibilidade de ler o original e o traduzido e assim constatar onde está o verdadeiro responsável pelo ''fracasso'' de uma dada obra, um crítico poderia privar-se desse trabalho tão injusto. caso isso ainda seja impossível, quem sabe não pudesse at least tentar mudar o conceito que temos de uma crítica?
sob essas condições, aquele crítico que lê esse ou aquele livro e comenta sobre ele, [me] livraria da sensação de que mal sabe o que tá fazendo. tudo isso, para justificar minhas reações perantes os livros que tenho comentado acá até então. espero que o leitor entenda. maioria dos livros que comento e tenho comentado, não pude ler os respectivos originais e assim posso igualmente ser afetada pelos sintomas citados acima. de todo modo, geralmente me privo de comentar mais a fundo sobre as obras, se o leitor tiver percebido, justamente para evitar me contaminar por essa síndrome de ''só sei que nada sei'' e ''todo mundo dá opnião sobre tudo'', por mais contraditório que isso possa ser.
Obrigado pelo link. Eu só faço comentários superficiais sobre o que eu leio, como a superinteressante. No Brasil lançam muita tradução ruim, mas melhorou bastante. A última decepção que eu tive foi o 'transppoting' que dois escritores ali de porto alegre traduziram re-criando as girías juvenis. O bom é que agoras os melhores tradutores são conhecidos e é uma garantia de qualidade. Na maioria das vezes.
ReplyDeleteAbraço!
intiresno muito, obrigado
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