ultimamente, tenho lido compulsivamente. e me irrita um pouco isso do português do brasil não ''admitir'' ou mesmo procurar evitar o uso abusivo de "mente" ou locuções verbais em demasia.. enfim, que evitei muito, mas embora no inglês eles, pelo contrário, "adoram" o uso do "ly", acabou que eu gosto de usar também..até que eu abuse, enfim. isso são momentos que um dia talvez eu explique. agora que estou lendo saramago. este homem sempre me impressionou. achei que iria torcer o nariz. e lendo-o agora, todos os nomes, torço um pouco. lê-lo é um tanto complicado e no livro que traz na contracapa "lei de incentivo à cultura [e acabo de conferir se esse "a" é craseado, e é, mas por quê? ... ] o livro não é traduzido. lembro que uma vez li ou ouvi falar "por que o brasil não tem filmes portugueses? o país de lá tem uma produção nessa área muito grande e muito boa... pergunta-se por que não temos esse intercâmbio. ora que eles nos assistem, mas nós.. um dos argumntos é que não faria sentido colocar legendas num filme português, devido às similiaridades entre as línguas mesmo que simultaneamente ocorra algumas divergências lingüísticas. e me parece que a discussão acaba por aí. agora, lendo esse livro, vendo que não é traduzido, eu o tenho que traduzir e interpretr de forma simultânea e inconsciente. ora que me incomoda ler ''actos'', ''exorne'', ''concelho'', ''economato'', ''atreita'', ''ciosamente'', ''onomásticas'', ''facto'' e outros termos que perdi por aí por nem saber o significado. chamo isso de imprudência. como incentivar uma cultura pela metade? quantos que como eu teimarão em ler um livro que não se entende o que se lê e que se tem que passar por cima desses contratempos para evitar ir de segundo em segundo ao dicionário conferir esta ou aquela palavra? além da situação desagradável de estar lendo algo que nem traduzido não é, a fim de justificar tal falha, fato que encontrei em outros livros traduzidos que li recentemente. e por isso eu traduzi algumas palavras nos trechos que exporei aqui, a fim de não procriar essa mania feia de não pensar no leitor alvo, aqui no caso o brasileiro. humpft. espero que funcione.
mas, enfim, que sobre este livro, para variar, não vou comentar muito à respeito, mas deixá-lo falar por si só. só pra frisar, a leitura me incomodou de início, mas esse saramago não é considerado um gênio contemporâneo à toa, afinal. percebi que nosso cérebro tende a se habituar de leitura à leitura, autor a autor, e conseqüentemente a seus estilos peculiares de escrita e ritmo. assim se deu comigo. entendi pra que ele veio. e tenho ânsia de terminar. isto está me perturbando, esse ler compulsivo, devorar de livros. espero não estar lendo por ler.
''todos os nomes'' está começando a me convencer, tanto que o parei rapidamente para trazê-lo a vosso conhecimento, leitores fiéis hahaha, eu que sempre me perguntava pra que servia um blog e que comecei a postar após a febre, para ninguém, e agora para quem me achar ao acaso. ou não. eu queria mesmo era ler ''ensaios sobre a cegueira'', cheguei a jurar que o tinha acá em casa. não, o acá não é influência do lusitano que estou a ler, nem esse infinitivar da escrita, mas de euá e de meu excêntrico modo de expressar com as palavras escritas.. então que não o achei mas encontrei esse, estranho, que me forço a ler, depois explico porquê. a seguir um trecho interessante, que vós tereis que ler muitas e muitas vezes, ou não, mas eu pelo menos tive, sobre tomar decisões. e então um pequeno trecho tal qual o original [al al al] de um diálogo sobre [este que a princípio muito me enrolei [e até me irritei] até entender o estilo].
em geral, não se diz que uma decisão nos aparece, as pessoas são tão zelosas da sua identidade, por vaga que seja, e da sua autoridade, por pouca que tenham, que preferem dar-nos a entender que refletiram antes de dar o último passo, que ponderaram os prós e os contras, que sopesaram as possibilidades e as alternativas, e que, ao cabo de um intenso trabalho mental, tomaram finalmente a decisão. há que dizer que estas coisas nunca se passaram assim. decerto não entrará na cabeça de ninguém a idéia de comer sem sentir suficiente apetite, e o apetite não depende da vontade de cada um, forma-se por si mesmo, resulta de objetivas necessidades do corpo, é um problema físico-químico cuja solução, de um modo mais ou menos satisfatório, será encontrada no conteúdo do prato. mesmo um ato tão simples como é o de descer à rua a comprar o jornal pressupõe, não só um suficiente desejo de receber informação, o qual, esclareça-se, sendo desejo, é necessariamente apetite, efeito de atividades físico-químicas específicas do corpo, ainda que de diferente natureza, como pressupõe também esse ato rotineiro, por exemplo, a certeza, ou a convicção, ou a esperança, não conscientes, de que a viatura [o carro] de distribuição não se atrasou ou de que o posto de venda de jornais não está fechado por doença ou ausência voluntária do proprietário. aliás, se persistíssemos em afirmar que as nossas decisões somos nós que a tomamos, então teríamos de principiar por dilucidar, por discernir, por distinguir, quem é, em nós, aquele que tomou a decisão e aquele que depois irá cumpri-la, operações impossíveis, onde as houver. a rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós.a prova encontramo-la em que, levando a vida a executar sucessivamente os mais diversos atos, não fazemos preceder cada um deles de um período de reflexão, de avaliação, de cáculo, ao fim do qual, e só então, é que nos declararíamos em condições de decidir se iríamos almoçar, ou comprar o jornal, ou procurar a mulher desconhecida.
[...]
Estava a pensar em meter-me na cama, minto, até já tinha descalço os sapatos, quando de repente tomei a decisão, Se tomou a decisão, sabe porque a tomou, Acho que não a tomei eu, que foi ela a tomar-me a mim, As pessoas normais tomam decisões, não são tomadas por elas, Até à noite quarta-feira também eu pensava assim, [...]
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