Tenho um amigo que tem um amigo. O amigo do meu amigo estava sempre reclamando da vida. Este amigo do amigo sempre morou em bairro nobre da cidade, certamente frequentou boas escolas, teve bons brinquedos, viajou pra praia e quiçá até para o exterior...
Mas o amigo do meu amigo faz parte do grupo que está sempre reclamando da vida. Não importa quão cheia esteja sua barriga. Reclamava antes porque não tinha dinheiro. Reclama agora, embora concursado, ganhando ai seus quatro dígitos antes do centavos, porque o refeitório do prédio onde trabalha está sempre lotado. Tudo é motivo para reclamar: a espera na fila do banco, o sal na comida, a namorada, a chuva, o sol...
Um dia, meu amigo cansado dessa ladainha, disse para seu amigo, assim, na lata:
- Vai pro abrigo.
- Pro abrigo? - indagou o outro, achando que meu amigo estava, no mínimo, pirando.
- É. Estou dizendo para você ir para o abrigo onde trabalho.
- Como assim? Tá doido?
- Não. Sua vida não tá ruim? Então, vai pro abrigo ver crianças sem pais; rejeitadas porque são velhas demais para adoção, ou, quando são adotadas, são devolvidas como se saco de batatas fossem; agressivas ou desconfiadas porque foram abusadas física e psicologicamente por pais, tios, avós, vizinhos, desconhecidos...
- Ah, é, né? - interrompeu o outro, como quem tivesse entendido, sem querer mais ouvir que a sua vida não era nem de longe ruim.
Você também tem um amigo assim?
Eu tenho.
Você também tem um amigo assim?
Eu tenho.
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