As razões pelas quais homens e mulheres têm sido divididos em campos opostos ─ e por conseguinte analisados de maneiras distintas ─ quanto ao hábito de fumar são variáveis. Diferentes pesquisas apontam que essas variações podem ser desde relações interpessoais até o (quase ingênuo) desconhecimento dos problemas causados pelo vício ─ neste último caso mais recorrente entre as mulheres.
Segundo o chefe da pesquisa, o Dro. Ralph Delfino, essas diferenças devem ser consideradas no apoio e tratamento de pessoas que desejam parar de fumar. “Raiva e qualquer tipo de aflição são sentimentos que podem desencadear a ânsia de fumar em algumas pessoas”, diz, “Qualquer ajuda para diminuir ou abandonar totalmente o vício, além de intervenções preventivas contra recaídas, podem exigir novos métodos que disciplinem o tratamento da raiva e do estresse, assim como precise de aspectos mais amplos para uma regulagem eficiente na área emocional”. Posto que o estudo observou um grupo composto por apenas 25 mulheres e 35 homens, aspecto que talvez o torne menos confiável para alguns, a iniciativa demonstra que homens e mulheres ainda apresentam divergências em seus universos particulares e, como indivíduos, cujas vidas estão sendo prejudicadas de alguma maneira, merecem uma maior relevância nessa questão.
A necessidade de se entender melhor o motivo pelo qual mulheres fumam mais do que homens nos países do Reino Unido (Irlanda do Norte, Escócia, País de Gales e Inglaterra) está no próprio fato do alto índice de mortes, principalmente do sexo feminino, relacionadas ao câncer de pulmão e outras doenças causadas pelos efeitos do cigarro no organismo. Não obstante as medidas legais adotadas pelo governo e as divulgações de artigos por jornais, revistas, ONGs e periódicos médicos advertindo sobre os danos causados pelo tabaco, a fim de reduzir a porcentagem de fumantes, os números continuam crescendo.
Em 1999, um estudo realizado no Reino Unido pela Cancer Research Campaign (aqui CRC) encontrou que a taxa de mulheres dessa região que morrem de câncer de pulmão é cinco vezes maior do que em qualquer outro país europeu, com exceção das dinamarquesas. O professor universitário Gordon McVie, diretor geral do centro do centro de pesquisa CRC, declarou que o número de mulheres fumantes do sul da Europa tem aumentado consideravelmente desde os anos 70, quando elas ainda eram, na grande maioria, mães e donas de casa.
Esse dado “curioso” remete a outro, publicado em três de abril de 1898 pelo New York Times, o qual relatava o “conservadorismo” das mulheres inglesas versus a “ingenuidade” das americanas. Enquanto as cidadãs do então jovem país pareciam arruinar a saúde e imunidade pelo uso do tabaco, mesmo que os casos conhecidos ainda fossem muito poucos, suas contemporâneas da Inglaterra já freqüentavam clubes onde havia salas especiais para fumantes e agora pediam por carros com acessórios para uso pessoal de fumantes.
Tudo começou quando a senhorita Edith Vance publicou sobre o assunto, no qual pedia por esses carros especiais para curar as mulheres da hipocrisia:
150 mulheres escreveram para a senhorita Vance, reclamando do fato de não poderem ser vistas fumando. Mas, nas palavras do artigo do NY Times, era justamente aí onde a hipocrisia estava:
Por outro lado, as notícias continuaram a exigir atenção, pois “apesar dessa porcentagem estar caindo, ela cresce entre garotas jovens e adolescentes”, McVie alerta, “então enquanto alguma coisa não for feita o mais rápido possível, nós poderemos encarar uma nova onda de mortes em nosso país”. Ainda segundo o professor, a influência exercida por propagandas e filmes era o principal motivo para essas jovens começarem a fumar.
Em setembro de 2001, dados de uma pesquisa indicaram que garotas de 14 anos eram duas vezes mais suscetíveis a fumarem do que garotos da mesma idade. O Smoking Cessation Approaches for Primary Care (Scape), entrevistou 1.157 homens e mulheres fumantes ou ex-fumantes. O resultado do quadro foi que muitas mulheres ignoram os problemas causados pelo tabagismo. O espantoso é que, no ano anterior, o câncer de pulmão foi o maior responsável pela morte de muitas delas. Ainda assim, o estudo realizado pelo Scape mostrou que 8% das entrevistadas não relacionavam o câncer com o hábito fatal; um quarto delas não sabia que fumar também aumenta o risco de doenças do coração; e dois terços ignoravam sobre o mesmo risco de sofrerem aborto. Publicado pela BBC, para ilustrar ao público feminino em geral o que poderia ocorrer a elas, duas gêmeas de 22 anos foram maquiadas para ilustrarem uma aparência comparada de ambas aos 40, caso uma fumasse e a outra não. A irmã fumante teria dentes amarelados e mais rugas.
O estudo também mostrou que menos de um terço das mulheres entrevistadas disseram não quererem parar com o hábito porque temiam engordar; outras 12% estavam preocupadas em lidar com o estresse - 26% das quais alegaram que a parte mais significante em fumar estava na possibilidade de aliviar e auxiliar em situações estressantes (dado igualmente encontrado no estudo de agosto e citado mais acima); 12% declarou sobre a simples vontade de querer fumar. Contudo, 37% delas afirmaram que desejavam “muito” parar de fumar, enquanto um número percentual equivalente confessou a pretensão de deixar o vício, mas não naquele momento... Inversamente, em oposição aos homens, um quarto a mais de mulheres ficou ansioso ou nervoso só de supor romper com o hábito. Da mesma forma, elas confessaram que talvez precisariam de ajuda para isso, enquanto os homens pareceram mais confiantes em fazê-lo sozinhos.
A pesquisa conclui que é extremamente alarmante que essas mulheres desconheçam os danos do tabaco em seus organismos e nos de pessoas próximas, como os de seus filhos. A estratégia de mostrar os efeitos na aparência parece ser uma boa alternativa visto que o público feminino está muito mais preocupado com esse ponto. De todo modo, representantes do governo do Reino Unido e da Organização Mundial de Saúde têm buscado medidas para mudarem tais circunstâncias. Entre as iniciativas mais conhecidas, estão as de banir definitivamente o uso do cigarro em lugares públicos, ambientes de trabalho e transportes coletivos, além de banir ou restringir o tema em cartazes e propagandas que intuem ao fumo.
A proposta da BMA é investir em campanhas a longo prazo para prevenir os jovens das causas do hábito, e outras para ajudar aqueles que já fumam e pensam em parar. Abarca também proibir a exposição de cigarros em pontos de vendas das lojas, como nos caixas, e exigir algum tipo de requisito para poder realizar a compra, como no caso do álcool.
A Assistência Nacional de Saúde de Tayside (National Health Service - NHS), na Escócia, é um dos poucos órgão de grande credibilidade do país quando o assunto é recuperar jovens que desejam parar de fumar, e por isso recebeu fundos de 159,000 libras do governo escocês para cumprir seus projetos. Algumas das medidas ministradas pelo NHS foi produzir peças e workshops com mensagens anti-tabagismo e direcionadas para crianças.
No começo de julho de 2007, a Inglaterra foi o último país do Reino Unido a censura totalmente o tabagismo em todos os lugares públicos, logo atrás do País de Gales e da Irlanda do Norte, em abril; da Escócia, no ano passado, e da Irlanda há três anos. Pubs, teatros, grandes centros de lojas (shoppings malls) e até o Palácio de Buckingham (!) foram alguns dos locais proibidos de aludirem ao fumo.
Neste último local em particular, o Palácio de Buckingham, é exemplo de um dos sinais de resistência contra a ordem anti-tabagista. Algumas matérias curiosas sobre o fato alegaram que embora a rainha Elizabeth tenha consentido a expansão da campanha nas dependências públicas do palácio, ela deixou claro aos membros da corte que ela teria preferido poder continuar a oferecer cinzeiros a seus visitantes assim como permitir que possam fumar. Ironicamente, a Elizabeth é uma das maiores representantes femininas do Reino Unido...
Mas retomando o tópico sobre as campanhas anti-tabaco na Inglaterra, algumas pesquisas revelaram que começam a aparecer sinais positivos - e negativos. Como as más notícias geralmente chegam primeiro, é interessante constar aqui que desde o começo de julho, qualquer um que for flagrado fumando ''ilegalmente'' será multado em 50 libras, com um desconto de 40% em caso dela ser quitada dentro de 15 dias. A “continha” aumenta para 200 libras se o indivíduo em questão for processado e condenado pela Corte;, e de até 2.500 libras se os estabelecimentos [businesses] não cumprirem a lei. Outro fato de útil para se ter conhecimento, também publicado pela BBC, é de que motoristas que forem vistos pela polícia fumando serão penalizados. Segundo Jim Fitzpatrick, Road Safety Minister - ministro da segurança no trânsito, “If you're lighting up with one hand and have a fag in the other hand then obviously you've not got any hands on the wheel”. A penalização está prevista pelo Código do Trânsito, reformulado depois de oito anos, com 42 novas páginas e outras 29 regras. Os defensores do novo código argumentam que motoristas que fumam ao volante podem ser interpretados pela polícia como distraídos e conseqüentemente inaptos para controlarem o veículo.
Quanto a uma das boas notícias, dividida parcialmente ainda como má para alguns, as vendas de cigarros caíram 7% em julho, comparada com as da mesma época do ano passado. A principal razão é devido à restrição de se praticar o hábito em lugares públicos. Os fabricantes do produto disseram, porém, que era ainda muito cedo para determinar o fato como relevante. De qualquer maneira, estatísticas indicaram que o número de fumantes diminuiu assim como a quantidade daqueles que já fumavam. E os indivíduos que desejarem fumar devem ficar em casa, enfrentar a lei ou se debandar para uma das ilhas britânicas (Ilha de Man, Jersey e Guernsey).
Embora a discussão proposta aqui englobe muitos outros assuntos e suas devidas análises de modo mais profundo, desde as antigas às mais recentes medidas tomadas pelos governos dos países que compõem o Reino Unido, finalizo com a sensação de que a pergunta continua sem resposta. Contudo, não lamento por isso. Em vista das inúmeras pesquisas e estudos feitos ao longo de todas essas décadas, considero que o tópico é realmente denso e necessita de uma consideração que vá além dos governos ou órgãos de saúde, chamando atenção do público, especialmente por conceber essa discussão como um divisor de águas.
Se por um lado uma parte da população do Reino Unido comemorou todas as medidas contra o tabaco, uma outra parte tem se sentido coagida e tratada como criança. Assim como as mulheres vêm tentando no decorrer da história da humanidade conquistarem seu espaço e direitos, o resto do mundo em geral têm recorrido ao mesmo privilégio universal. Indo mais além, o fato de fumar ou não em público atinge muitas vezes aqueles que não têm nada a ver com o hábito, os fumantes passivos. Isso pode soar familiar na fala de crianças “irritadinhas” com qualquer bronca dos pais ao dizerem “não pedi para nascer”. Seguindo a lógica, os fumantes passivos poderiam reclamar que “não pediram para fumar”. Em outras palavras, todo mundo tem o direito de escolher. Ou o de livre arbítrio, para os mais bíblicos.
Ao visitar algumas páginas da Internet sobre o assunto me deparei com um fórum do Yahoo, no qual a seguinte questão foi feita há um ano: “Porque o numero de mulheres fumantes aumentam cada vez mais?” (sic). Dentre as respostas menos prováveis de se esperar, houve a de um membro que dizia que era fácil, pois “a mulher do século XXI tem a tendência de a cada dia ocupar o lugar do homem na sociedade, como a característica da mulher em relação ao homem e do principio fundamental do reconhecimento de si própria, a mulher e muito mais responsável, ansiosa e curiosa que o homem, então ela tende a se estressar muito mais rápido devido ao peso em cima de sua consciência e tudo leva a mulher recorrer a uma simples droga urbana, que e o tabaco. Obs: Já o homem recorre ao álcool !” (sic). A então resposta engenhosa foi escolhida como a melhor num total de 100% de aceitação... por dois únicos votos! Sem discordar totalmente do que foi argumentado pelo membro, ouso dizer, com base em toda a pesquisa que fiz sobre o tema, tornando-me assim mais apta que ele/ela mas não menos passível de errar, que todas as conquistas das mulheres trouxeram mais do que vantagens, mas também conseqüências. Ouvi certa vez que “nem tudo que é bom, não é de todo bom, e nem tudo que é mau, é de todo mau”, e assim concluo, o culpado da vez é o cigarro.
-------------------------------------------------------------------------------------------------Bibliografia:
Fewer kids smoking and drinking: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/scotland/6701577.stm
NHS braced for tobacco law change: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/scotland/7016797.stm
England smoking ban takes effect: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/6258034.stm Cigarette sales 'fell almost 7%': http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/6957658.stm
Lung cancer 'biggest killer' of women: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/940840.stm
'More women suffer lung disease': http://news.bbc.co.uk/hi/english/health/newsid_889000/889766.stm
AND THEY ARE CONSERVATIVE. English Women Are Talking of a Smoking Car for Their Own Individual Use. : http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?res=F70610FE3A5D11738DDDAA0894DC405B8885F0D3
Smoking: The sex divide: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/1500687.stm
The way the British smoke: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/4709394.stm
Women unaware of smoking risks : http://no-smoking.org/sept01/09-28-01-2.html
High cancer risk for UK women: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/444335.htm
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