Porque não compro um carro - Parte I

Começo a me perguntar se a necessidade de ter um carro não está se tornando algo socialmente construído. Parece ser cada vez mais difundido entre meus colegas de classe alguma coisa média que andar a pé é algo inconcebível. Se ainda acreditassem em diabo, certamente venderiam-lhe a alma para não terem que passar por isso.

É claro que já pensei inúmeras vezes, nos últimos tempos, em comprar um carro. Quem lida diariamente com ônibus lotados, atrasados ou quebrados, sem horários mais amplos e flexíveis (como após a meia noite), ou depende de carona para ir ou voltar de algum lugar deseja muitas vezes ter a independência e conforto que um carro proporciona. Mas algumas razões têm me feito recuar na decisão de comprar um carro. São bem simples. Listarei a primeira hoje e as demais nas próximas postagens.

Dinheiro


Não serei hipócrita. A primeira razão pela qual não compro um carro é falta de dinheiro, bufunfa. Ou mais ou menos por isso. Ano passado, depois de passar várias raivas pela falta de um carro, cogitei seriamente em adquirir um automóvel novo ou usado. Adoro modelos antigos, tipo fusquinha ou o gol quadrado. Também achei que um Cherry cairia bem. Fiz os cálculos e, bem, teria como bancar. Assim, ficaria apertada todo mês, mas conseguiria me livrar dos meus problemas andando motorizada.

Só que, apesar das facilitações como queda do IPI, acabei concluindo que adquirir um carro nas minhas condições era uma roubada. Entregar minha vida nas mãos do banco por meio de um financiamento realmente não valia o "investimento": assim que meu produto recém adquirido saísse da concessionária, seria desvalorizado. Um carro de segunda mão já é desvalorizado por si só. 

Isso significa que ficaria com metade do meu salário comprometido em parcelas que se prolongariam por 5 anos por algo que perderia seu investimento inicial em uma queda livre. Não acho isso inteligente, sinceramente. Adquirir um imóvel dá mais jogo, mas isso é assunto para outra postagem.

Bom, além do mais, não devemos esquecer que comprar um carro também envolve contratar um seguro. Caso contrário, ah, meu amigo, vai ser burro assim lá na... A onda de roubos de veículos cresceu em 82% no primeiro trimestre de 2012. Imagina esse tipo de situação para quem não tem um seguro? Vale lembrar que o número de sequestros-relâmpago teve um aumento de 46% no mesmo período, o que implica em gastos com outros serviços, como psicólogos para lidar com casos traumáticos de situações como essas.

Então, eu fiz as contas: parcelas do carro + parcelas do seguro + ah, ainda tem IPVA, combustível...  realmente, não dava.

Diante de tudo isso parei e raciocinei: "cara, com meu salário, ou em compro um carro ou eu viajo". É claro que tem gente que pode bancar os dois. É óbvio. Mas no meu caso, eu tinha que escolher entre um dos dois. O que você acha que escolhi? Dica: ano passado viajei mais do que nos últimos seis anos.

Acredito que por pouco não entrei nessa encrenca, mas tenho muitos colegas que foram até o fim e hoje estão atolados com o peso de se ter um carro, apesar do status...

Naturalmente, uma série de outras razões também me impediram de comprar um carro, as quais pretendo falar em outras postagens, mas me fale sobre você! Adquiriu ou pensa em adquirir um carro recentemente? Foi fundo ou ainda está em dúvida?

1 comment:

  1. meudoce1:39 pm

    Nos últimos tempos eu andei me revoltando com a situação da minha vida e pensei, com certa raiva, que eu deveria, por um momento, deixar de ser idealista e fazer algo para o agora, como a maioria da humanidade parece fazer. Eu resolvi deixar pra lá essa coisa de achar que carros são inimigos que só causavam estresse e faziam mal para o meio ambiente. Por um momento eu me permiti pensar que talvez eu devesse ser pragmático: eu quero um carro só pela sensação de que eu sou independente, já que eu me sinto tão preso. Eu não queria um carro como forma de status e muito menos para sair andando por aí diariamente. De forma alguma eu me entregaria ao caos do trânsito. Continuaria passando pelos meus momentos de introspecção no metrô e no ônibus durante os dias de semana. O meu carro seria apenas um grito de revolta - uma espécie de "veja sistema, não é só você que se aproveita de mim, eu também me aproveito de você! hahahaha"... uma coisa meio insana. Eu poderia sair nos fins de semana e feriados, sem me preocupar com o fato de que ônibus simplesmente desaparecessem nesses dias, e poderia ir e voltar, em tese, a hora que eu quisesse, sem me preocupar com a boa vontade dos que me oferecem caronas (até porque eles não têm obrigação de nada). Eu nem cheguei a levar em consideração aquilo que por anos tinha sido a maior e quase única razão de eu querer ter um carro: ter um som pra dirigir ouvindo música. Eu nem pensei nisso nos meus últimos desgostos porque nem sei quanto custa um som de carro, e a prioridade era pensar no carro em si e na gasolina. E agora vejo com esse post, como é pior do que eu imaginava (eu tenho mania de achar que as coisas são mais simples - ainda sou uma criança que quer 5 dinheiros). Depois dessa, eu vi que realmente não tem saída. Talvez se eu fizesse um sequestro relâmpago... eu poderia ficar com o carro, e com o dinheiro sacado nos caixas eletrônicos daria pra encher o tanque... e se sobrasse eu ainda poderia viajar. Mas, acho melhor continuar apenas sonhando, porque o crime não compensa.

    ...E a bicicleta ainda me deixa sujeito aos horários e alcance do metrô, quando se trata de longas distâncias.

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