Sim, estou sozinha. Não, você não pode se sentar.



Que mulher nunca, sentada sozinha em uma mesa de bar, teve que aturar algum desconhecido se aproximar, largo sorriso, copo de cerveja na mão [às vezes dois, um para ele e outro para ela], perguntando o óbvio [se está sozinha] enquanto faz menção de se sentar [sem ser convidado]? É como se estar sozinha em uma mesa de bar significasse passe livre para qualquer protótipo de homem iniciar uma conversa.

É claro que não há nada de errado com uma boa e inesperada conversa depois que o sujeito resolveu se aproximar [e sentar] mesmo, afinal bar é um local onde este tipo de dinâmica é comum. O problema é quando o outro não aceita que essa conversa possa pular do início para o fim sem ter que perder tempo com meio quilo de cantadas mal sucedidas.

Diante desta situação, há as que sorriem e dizem que sua companhia está chegando e há as que pensa, mas não dizem: "A minha própria companhia me faz melhor do que a sua faria". As primeiras geralmente dão mais dois ou três minutos de trela para o tentativa-de-conquistador ao passo que as segundas, quando finalmente se atrevem a tentar afastá-lo de forma mais direta como "não, você não pode se sentar" são premiadas com ofensas e insultos à sua sexualidade, por exemplo [como se ficar com um tipo desse fosse fazê-la mais mulher ou, pior, ele mais homem].

Não sou do grupo que sorri. Eu digo que "não, não pode se sentar". Faço carão. Sou do tipo Anésia nos tempos dourados. É lamentável, porém, que haja muita menina tímida por aí ainda: mesmo que queira rejeitar a indesejável aproximação, não sabe dizer "não". É como se compartilhassem com o indivíduo o sentimento de que não deveriam estar sozinhas em uma mesa de bar.

Treine esse olhar e diga: a minha própria companhia me faz melhor do que a sua faria
A situação tende a piorar se a mesa estiver composta por um grupo de amigas. Os homens adoram isso tanto quanto moscas quando veem carne moída.

Se um grupo de amigas se sentam em um bar, pedem uma cerveja e conversam sobre a ficada de ontem ou a que rolará amanhã os homens ao redor logo ficam mais atentos do que gente do interior parada na porta de casa para dar conta da vida alheia. Na sequência, o garçon subitamente começará a dar mais atenção à sua mesa, os homens se levantarão mais para ir ao banheiro, se este estiver no caminho da mesa das ditas cujas e finalmente a conversa nas mesas vizinhas cessarão por completo: tudo para ouvir a opinião daquele grupo feminino sobre sexo, gravidez e até menstruação.

O interessante nesse tipo de situação é que ao contrário do homem que em um bar não tem outra intenção além de passar o tempo bebericando, a mulher desacompanhada no mesmo tipo de ambiente parece passar a única mensagem de que está ali à procura de um parceiro [a propósito, deve agradecer a aquele que se candidatar], possivelmente para relações sexuais [se rolar, no próprio banheiro do bar].

Mulher sozinha no bar atrai mais atenção que carne moída para mosca.
Mas, ora essa, a quem estou tentando enganar? Será que a razão para tanta atenção é por que bar não é lugar de mulher? Ainda mais se estiver sozinha... Condição essa que automaticamente permite qualquer tipo de investida. Ah! Esqueço que esse tipo de mulher que quer tomar uns goles para esquecer qualquer problema ou simplesmente relaxar cai na mesma categoria daquelas que se vestem provocativamente: estão pedindo para ser assediadas.

Será? Quer dizer que a mulher não pode ficar de saco cheio e dar uma passada em um boteco depois do trabalho para tomar uma ou duas doses antes de seguir para casa para encarar louça suja e marido pé-no-saco? Com todo respeito aos que compartilham esse tipo de pensamento, eu discordo.

Tomar uma ou duas depois do trabalho: mulheres, uni-vos! (Imagem: Fox Photos/Getty Images)
Mulheres podem e devem sair sozinhas sempre que der na telha. O que isso diz sobre elas não tem nada a ver com solidão ou falta de moralidade. A razão pode ser tão simplória quanto não dar a mínima sobre o que outras mulheres ou homens pensam sobre isso. Basta que se sintam livres, à vontade e independentes para fazer isso e c'est tout! Não dá o direito, porém, a ninguém de se aproximar e perguntar o que a doçura está fazendo desacompanhada nem tampouco significa que falta homem para acompanhá-la em um programa como esse. 

A mulher poderia muito bem ter escolhido beber sozinha em casa, livre de olhares sedentos por julgar sua atitude. A verdade é que ao optar por sair de casa e beber em um local público, ainda que dominado por homens, pode apenas refletir a personalidade de uma mulher com muita força interior e segurança para se satisfazer com sua própria companhia, quando assim lhe apetecer! Em tempos que ainda há lugares onde as mulheres não podem frequentar um bar, que dizer sozinhas, aquelas que o podem têm mais é que exercitar seu direito. 

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