dibois escreve:


nada me trazia mais desgosto que observar meu irmão frederico ruminar idéias. como se não bastasse, fritz procurava me abstrair de meus gibis para compartilhar de alguma discussão sobre isso da literatura machadiana ou aquilo há pouco descoberto pela ciência. ora, que fosse tagarelar com outros guabirus sobre a amoralidade do mundo! então eu ria 'a valer, porque de fato ele ía divagar suas inutilidades.

para ser franco, menos falso, seus pensamentos apenas me interessavam em momentos que as lições escolares complicavam demais. sutilmente, eu lhe suplicava por uma luz sua no mundo de minhas idéias. muitas vezes obtive esse auxílio e terminava por dispensá-lo sem um curto ou único agradecimento, fechando-lhe a porta atrás de mim. certa vez, porém, farto de minha desconsideração, recusou-se a me ajudar, ao que me disse com grande mau-humor:

- você é como um desses ignorantes do povo e, como tal, adequa-se perfeitamente a uma grande ironia de um dos maiores ditos populares: "os aduladores são os piores inimigos".

pela primeira vez na vida, senti a necessidade de poder falar 'a sua altura. mas tamanha era minha mediocridade, que não pude erguer-me de onde estava. passei alguns segundos, eternos foram, até que meu orgulho fera ferida se emudecesse. busquei pelo código da vida, pelo idiota, e pelo processo, pela metamorfose e até a obra em negro, todos os nomes que eu sabia de cor por mirá-los todos os dias em sua estante, e ao mesmo tempo tão sem sentido como não poderiam ser além dos livros fechados que sempre foram para mim. por fim, levantando-me do chão, retruquei:

- ora, e você é o próprio dito popular: os anos passarão e você continuará imutável, sempre procurando aplicar exemplos morais ou filosóficos. se aproveitará da língua para explicar isso ou personificar aquilo, em prol de beneficiar ou aumentar sua cultura. eu não duvido que conseguirá; no entanto, não muito diferente de mim, também será ditado pelo povo!

e seus olhos faíscaram contra os meus demoradamente. então ele fechou para sempre a porta atrás de si.

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