eu e aquele mau humor matinal.
não queria levantar, mas havia um compromisso.

o ônibus veio vazio.
droga, peguei um lugar onde o sol tocaria.

tá bom.
ouço johnette nos fones.

eles anulam o mundo exterior.
o barulho.

aí vem essa mulher até o centro do ônibus, se postando em pé e falando.
deve pedir qualcosa.

lembro de repente de um dos meus primeiros impulsos para escrever sobre o que ocorre no ônibus justamente por causa desses tais que pedem.

eu não olho. outrora eu tiraria meu fone em respeito, procuraria minha carteira, disporia moedas graúdas. mas hoje não. lembro de quantas vezes essa situação se repetiu. quantos deles iam surgindo dia-após-dia, recém saídos das drogas ou há pouco desempregados com muitos filhos para criar, ''eu podia estar roubando mas estou aqui trabalhando/pedindo'' etc. nos dizem para ficarmos com deus, para termos um bom dia.

mas eu apenas virei para o sol, olhos tristes, permanecendo com os fones no ouvidos, olhando-a uma vez ou outra. então a vi olhando ofendida para um rapaz que não lhe dava atenção. e disse qualcosa a ele. pff. mas ele replicou. ela não gostou. e continou falando sobre deus, deus, deus, jesus, deus, deus.

aí de repente ela parou ao meu lado. eu olhando ao longe. e sentindo ela ali. e ficou pregando. apregoando. deus, deus, deus, deus. jesus, deus, jesus. ao meu lado. pregando. cristo. pregos. apregoando, será por isso tudo isso? pff. desistiu e se foi. e eu revirei os olhos.

e se foi.

ônibus.

No comments:

Post a Comment

Obrigada por comentar!