edward kaduovah (79) é um russo filho de alemães. ele está de passagem pelo brasil para o lançamento oficial de seu livro, ''a secreta linguagem do sol'' (reler, 2004), uma autobiografia que reconta sua conturbada adolescência vivida nos meados do fim da segunda guerra mundial. o mesmo autor de ''não chore, catarina, david não voltará'' e que tem levado muitos jovens da atual geração ao delírio psicótico e até ao suicídio, episódio que relembra aquele presenciado por goethe em seu ''jovem werther'', em 1774 adiante. Nesta entrevista exclusiva e cheia de perguntas clichés, kaduovah fala um pouco sobre si mesmo e da relação com o mundo, o qual acusa de vazio.

fanzine experimental - por que o brasil para lançar seu livro?

kaduovah - depois da rússia, é o país que mais lê minhas obras. porém aqui não se ouve falar de jovens que se matam pelo que lêem em livros, apesar dos pesares.

f.e. - considera a rússia imatura?

k - não. absolutamente não. o problema poderia começar a ser apontado na nossa própria língua. ela soa rude a um ouvinte não nativo...parecemos agressivos até no modo de falar..e eu de repente me coloquei como esse ouvinte externo. pensei: então é assim que devo escrever, assim que será lido e interpretado. talvez, esse efeito, de fazer com que meus conterrâneos ouvissem a própria voz, a própria língua, carregada com algumas mentirinhas e outras verdades pretensiosas, em maior ou menos tom, foi justamente o fator que os despertaram. infelizmente, alguns resolveram se desvencilhar dessa ''voz'' e se apagarem de vez. por outro lado, o efeito pode ter sido nulo aos outros ''leitores-ouvintes''.

f.e. - qual a sua relação com os livros?

k - nada tenho a declarar nem a favor nem contra eles, pois os escrevo e sei o quanto podem se tornar mal-ditos. no entanto, como já disse um certo alguém: ''não leia muitos, mas muito''.

f.e. - por que essa revolta com suas obras, a ponto de chamá-las de malditas?

k - porque o são. tive um professor que dizia "você é sempre o último livro que lê'', e é verdade: procuramos nos livros respostas exemplares para seguirmos, mas se eles não se enquadrarem naquilo que procuramos e desejamos, os rejeitamos..então qual a função dos livros se não a de publicar aquilo que já somos ou sabemos? e ainda sim, eu escrevo, escrevo, publico, e vejo que mesmo assim não disse o que e como queria.

f.e. - algum exemplo?

k - galileu teve suas obras queimadas em praça pública e depois "precisou" reformular sua teoria. suponho que a verdade seja de que ainda hoje os escritores trabalham feito loucos e a editora vem e reecreve o trabalho deles. tolice. no final das contas, esses mesmos trabalhos são reeditados, desvalidando os primeiros. isto é criminoso e injusto.

e.f. - por isso a opção por uma autobiografia nessa segunda obra?

k - sim, digo o que quero, mesmo que alguns fatos não tenha acontecido comigo. goethe fez isso e todo mundo aplaudiu e morreu por ele. por que não eu? quem vai desmentir a ''minha'' história?

e.f. -
e o amor de escrever, não há?

k - sim, se você tiver netos.

e.f. - não me parece fazer muito sentido. aos 79 anos o sr. ainda não tem família. por que essa opção?

k - bom, não me dou bem com ninguém por muito tempo. minha... o certo seria dizer que não me dôo o necessário a ninguém, pois reservo boa parte do meu tempo a mim mesmo.


e.f. -
e amigos, o sr. tem?

k - por ser naturalmente recluso, além de não confiar muito nas pessoas, sempre criei meus amigos. eles são todos imaginários.

f.e. - ocorrem sentimentos de decepção, perda, e desconfiaça entre o sr. e esses seus amigos idealizados?

k - dizem que deus criou aos homens e lhes deu vida e escolhas próprias. e dizem também que os homens criaram deus, por necessidade e narcisismo. bom, eu fiz o mesmo.

f.e. - o sr. tem alguma religião? ou a filosia supre tudo?

k -
agora preciso ir. mas antes, já ouviu falar em diógenes? (disse, já se levantando)

f.e. - e então kaduovah se foi com seu sorriso plácido e sua magnitude.

4 comments:

  1. E Diógenes renasce! Não consigo acreditar que alguém suicide-se depois de ler um farrista desse, até já vejo... ele escreve, os caras se matam e no último publicado ele desmente todos os anteriores e sacaneia todo mundo, os vivos e os mortos.

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  2. palmas, palmas, palmas. As pessoas imaginárias, como eu gosto delas.

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  3. Acrasia (ócio) says:ela fez isso
    Acrasia (ócio) says:a referência ao meu blog é uma citação dela
    Victor says:Que coisa maravilhosa.
    Procura o nome do livro do cara... não tem?
    Acrasia (ócio) says:
    não tem
    Victor says:Porra. Eu queria tanto ler...

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  4. Eu tenho o livro.
    E a única coisa que o faz semelhante à Goethe, é a vontade de morrer depois de ler.

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